sexta-feira, 8 de abril de 2011

"Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."

Tomei um cansaço com a mudança, e ainda não terminei de guardar minhas roupas.
Hoje era dia de psicóloga e psiquiatra.

Cheguei na psicóloga, comentando da minha dificuldade de arrumar minhas roupas em um guarda roupa imenso. É muito espaço sobrando, normalmente eu iria simplesmente jogar as roupas ali, mas dessa vez não, eu queria arrumar tudo.
Do assunto "arrumação" pulei direto pro assunto: "minha namorada, minha ex-namorada".

Psicóloga: -Interessante como as coisas se ligam, tu estava falando de arrumar, preencher o espaço do teu guarda roupas e pulou de assunto "bruscamente", mas olha como o inconsciente age com instinto; a vida de vocês era muito intensa, vocês estavam sempre juntas, não eram duas pessoas, era uma só, e inclusive isso atrapalhou vocês duas várias vezes, cada uma invadindo o espaço da outra, vivendo pra outra e esquecendo de si, a relação de vocês ocupava todo o teu tempo, todo teu espaço, tudo em ti.
E agora tu precisa preencher esse espaço, esse vazio dentro de ti. Assim como o teu guarda roupa novo.

Eu concordo, disse que fazia muitas coisas pra ocupar meu tempo, mesmo que fossem besteiras.
E nos segundos em que eu começava a viver de lembranças e memórias, eu agia como louca; sacudia a cabeça, fechava bem os olhos, e as vezes até assoprava o ar, na tentativa de tirar isso de mim.
Falei que achava estranho eu fazer as coisas pro meu bem sem me sabotar, que eu acho estranho "a falta do lado negro".
Inclusive questionei à ela: O fato de eu tirar todas as coisas que possam me lembrar ela, enfim tentar evitar um contato visual, pra não cair no mundo das lembranças, é bom ou ruim? Porque olha só, quando tenho um problema eu sei que eu preciso ir e voltar, desatar vários nós, enfrentar o que me incomoda. Mas se eu ficar pensando.. tipo eu não vou mudar o passado, só vou sofrer em lembrar o que aconteceu, e se eu lembrar das carinhas que ela fazia ou coisas desse tipo, eu me arrisco a cair num falso mundo, onde reviver a memória seria viver meu presente. E morro de medo disso.
Eu não quero me esquecer dela, mas é que dói muito... Então o que tu acha?

Ela responde: Tu estas totalmente correta, guardou tudo com carinho e realmente... tu não pode mudar o passado e isso só vai te machucar mesmo.  Mas um dia tu vai ter que tentar ver isso com outros olhos..
Dai eu interrompi ela, dizendo: Eu já fiz isso milhares de vezes, e sempre chego a mesma conclusão. Por mais que eu olhe de um lado, do outro, de cabeça pra baixo, no final eu vejo sempre a mesma coisa, resumindo de um modo estupidamente grosseiro, ela morreu.
Eu fiz o que pude, mas eu não posso mudar todo o passado.

Comentei também que existem várias coisas que me deixam muito mal, por exemplo: sirene.
Qualquer uma, não importa do que, se é de bombeiro, ambulância ou polícia, isso me deixa mal, lembro do dia e penso que alguém, algum pessoa que chamou essa ambulância está sentido exatamente a mesma coisa que eu senti naquele dia, e eu começo a me sentir mal, por uma situação que eu nem sei, por alguém que eu não conheço...me doí em pensar que alguém está do jeito que eu fiquei.
E ela disse que eu tinha mesmo que evitar tudo, as fotos, o nome, as lembranças, enfim tudo mesmo, porque isso é uma coisa que leva tempo pra cicatrizar e toda vez que alguma coisa te faça lembrar à ela, é como se alguém puxasse a casquinha de uma ferida. então eu deveria evitar, pra me fortalecer pra que no futuro nada disso aconteça, que eu possa olhar sem sentir dor.

E por fim, combinamos que assim que eu ficasse mais tranquila com a mudança, eu iria ir 2 ou 3 vezes por semana lá. Eu concordei na hora. E logo mais a sessão terminou.

Corrida para o psiquiatra.
Pra minha sorte, a minha psicóloga havia contado pra ele no dia anterior, disse que ele ficou horrorizado, apavorado e muito preocupado.
Ele sempre me recebe com a mão estendida e um sorriso no rosto, dessa vez não tinha o sorriso.
Comentei por cima tudo o que eu passei, não entrei em detalhes, eu não queria rasgar o meu peito.
Falei que eu ficava muito nervosa, pois o antiansiolitíco faz efeito de até no máximo 4 horas e meia.
Que eu tentava aguentar o máximo possível até tomar o outro comprimido, mas que toda vez que eu esperava demais, eu ficava muito mal, e caia no ciclo vicioso de pensamentos.
Mas apesar de não me sentir "calma" todo tempo, eu não queria aumentar a dose, eu admiti que isso vicia, e ele também.
Mas eu falei pra ele que eu preferia me viciar no remédio por agora, tornar meu sofrimento menos angustiante e depois sofrer pra me livrar do remédio. Porque na real foi ontem, por mais que na minha cabeça pareça uma eternidade. E ele concordou comigo, disse: Realmente, a prioridade agora é tu ficar bem, te fortalecer, passar por esse luto. É de fato sim, mais ganho se viciar no remédio.

E pra ajudar, a minha oitava maravilha do mundo (combinação de remédios que me faziam dormir em meia hora) não funciona mais.
Então chegamos ao acordo de tomar o antiansiolítico duas vezes ao dia, ao invés de três e tomar o zyprexa junto com os outros. Pra ver se diminuia o vazio e se eu conseguisse voltar a dormir.

Então, estava tudo ok.
Na hora da despedida ele me estendeu a mão, olhou bem nos meus olhos e disse: Eu sinto muito.
Olhei pra ele com os lábios pressionados, e simplesmente sacudi a cabeça, sinalizando um "ok".
Mas na verdade quando ele disse isso, eu pensei: Eu também.
Não vou conseguir dimensionar o peso desse "eu também", sei que quando fui esperar o elevador, eu chorei, no estilo criança soluçando.

Impressionante como uma palavra pode significar tantas coisas.
Como uma palavra envolve inumeras coisas.
Envolve a vida e tambéma  morte.
Forma um cíclo.

**To cheia de roxo e destruida da mudança, não liguem se o texto estiver muitas coisas erradas ou sem pé e sem cabeça, to cansada mesmo.

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