domingo, 13 de março de 2011

O céu e o Inferno.

Há 2 anos atrás, eu prometi naquelas listinhas de promessas de virada de ano sabe? Que eu iria ficar 5 anos sem namorar.
Mas não deu certo, me apaixonei pela pessoa que eu mais tinha ódio na vida.
As coisas aconteceram muito rápidas, nos jogamos de cabeça.
Era tudo intenso e maravilhoso.
Quando tínhamos que amar, amamos.
Quando tínhamos que brigar, brigamos.
Quando precisávamos do silêncio, nos calamos.
Quando precisávamos apenas da compania, ficamos sempre perto, lado a lado.
Nunca abandonar. (Foi uma promessa que fizemos uma pra outra)

Não vou dizer que meu mundo acabou, poque nós terminamos.
Não. Nós não terminamos.
Nós não deixamos de nos amar.
Nós não deixamos de ser apaixonadas.

Eu tenho "problemas", tu tem "problemas", todo mundo tem problemas.
Mas só o dono da dor sabe o quanto dói.

Eu sabia que ela tinha uma carência muito grande quando a questão era; família.
Ela perdeu o pai a 4 anos. O pai era tudo pra ela, era quem amava, era o seu porto seguro, ele era pai.
Não fazia apenas as vontades do luxo e do conforto.
Fazia todas as vontades, das aventuras mais emocionantes ao dar o carinho.
Que só um pai ou uma mãe pode dar, no caso era só ele quem dava tudo e principalmente o amor, a presença, o cuidado, a preocupação, os "nãos" e os castigos.

Já na relação com a mãe (mesmo antes do pai falecer) isso nunca aconteceu, pelo que ela me dizia.
E depois da morte do pai, a mãe deixou de passar o dia comprando tapetes e assumiu a empresa.
O ser mãe desta criatura era apenas dar dinheiro, satisfazer as vontades do luxo.
Ela achava que dando dinheiro aos filhos, tudo seria resolvido.
Mas e o colinho de mãe? Que só uma mãe pode dar. Como faz?

Ela sentia falta da mãe e cobrava isso das formas mais erradas possíveis.
O ego dela era muito grande pra dizer: Mãe eu sinto tua falta, falta do teu cuidado, falta da tua atenção, falta do teu amor.

O dinheiro não compra amor, dar dinheiro não faz uma pessoa ser mãe.

Ela estava muito bem consigo mesma, nós estávamos na nossa melhor fase.
Estavamos cheia de planos.
E o nosso amor aumentava a cada dia.
Fizemos 1 ano dia 10 de Fevereiro.
Vivíamos falando que iríamos nos casar, ter uma apto bem grande com vários cachorros.
Enfim essas coisas que fazemos quando amamos alguém.
Planejamos o resto da nossa vida ao lado uma da outra.

Dois dias seguidos ela teve um problema com a mãe dela, ou melhor o mesmo de sempre.
Um cano estourou e teve uma enchente no quarto dela.
A primeira coisa que ela disse quando ligou pra mãe foi: "Eu quero que tu venha aqui, não um encanador."
No outro dia, o mesmo cano voltou a estourar, e a frase dita a mãe praticamente se repetiu:
"Eu quero que tu venha aqui, é tu que deveria estar aqui, vem tu pra cá."

Houve descaso da mãe. Sempre a mesma desculpa "alguém tem que trabalhar".
Mas na minha visão filho vem sempre em primeiro lugar. E não o trabalho.
De fato, tem gente que não nasceu pra ser mãe.

Uma vez eu falei pra ela que tinha tempo sim pra mãe dela e ela se aproximarem.
Ela disse: "Não da mais tempo, o que ela não fez no passado, não tem como fazer agora"
Eu insisti: "Sempre há tempo" dei o exemplo da minha relação com a minha mãe.
Era um merda, eu era tratada como paciente dela e não como filha, mas.. (desculpa mãe) ainda bem que tu tomou uns sacodes da vida, isso nos aproximou. Agora sim me sinto ganhando o amor e o colinho de mãe.

Ela já não acreditava mais que a relação com a mãe dela, pudesse ser perto do normal.
Essa foi a ultima gota d'agua pra ela. Literalmente. Uma cano estourou e formou-se uma enchente, que levou tudo de bom embora, deixando apenas a magoa e a raiva da mãe.

Como havia prometido.
Fiquei ao lado dela.
Tentei impedir.
Me arrisquei. (eu poderia ver algo horrível que me marcasse pro resto da vida)
Mas mesmo assim fiquei. Eu jamais cogitei a ideia de sair de perto dela.
Nem se ela estivesse com uma espingarda apontada pra cabeça, que de fato estava.
O Olhar não era dela, só tinha raiva e ódio.
Ela não escutou nada do que eu falava, não teve reação.
Não era ela nesse momento.
Ela me disse: Desculpa.
E atirou.

Não queria saber o que eu senti.
Não tente imaginar.

Eu passei mais de 12 horas seguidas descrevendo tudo que aconteceu nesse dia, no meu diário pessoal.

Mas não escrevi o que eu senti naquele segundo, no segundo em que eu escutei aquele estouro.
Poderia passar meses ou até anos tentando descrever como me senti. Mas isso seria impossível.
A dor nos faz fazer coisas que jamais imaginamos.

Eu surtei, eu tive o maior medo da minha vida, a maior dor que possa existir.
Afinal não foi algo natural, que faz parte da vida.
Foi a coisa mais agressiva. Foi a dor ao extremo que levou ela a fazer isso.
E a dor extrema mudou a minha vida.
Amadureci 20 anos naquele milésimo de segundo.
Um rombo foi feito em mim. Ele é uma mistura de memórias e sonhos não realizados.
Esse rombo é a falta, a saudades eterna.

Prometi que ficaria do lado dela, e fiquei. No momento mais difícil da vida dela.
Ela me esperou em coma na UTI.
Eu falei com ela, disse que sempre estaria do lado dela.
Que ela sempre teve razão.
Que eu queria que ela ficasse bem. (da forma que ela achasse que fosse melhor pra ela)
Falei: Amor, eu te desculpo. Te amo. Te amo muito viu.

Minutos depois, após eu sair da UTI ela faleceu.

Meu pai (que é totalmente cético) disse: "minha filha, eu não quis te dizer na hora, pra tu não ter uma reação exagerada lá dentro.. mas quando tu pegou a mão dela e começou a falar com ela.. a respiração dela aumentou. E tu sabe que eu jamais iria te mentir sobre uma coisa dessas, ainda mais nessa situação.

Como eu havia dito antes, nós não terminamos.
Nosso amor foi interrompido.
Nosso amor é incondicional.

A partir desse segundo.
Eu renasci, confusa, afinal é tudo muito recente.
Mas hoje sou muito mais positiva.
Dou muito mais valor a tudo e a todos.
Digo e te amo e dou abraços que antes eu tinha vergonha.

Nunca mais na minha vida tu vai escutar eu dizendo: estou com um problema, tenho isso e blá blá blá.
Eu não tinha noção do que era problema, passei a ter da forma mais agressiva existente no mundo.
Que foi ver alguém que eu amo, se machucando, por não ter e não sentir o amor da mãe, pra machucar aquilo que dizia ser mãe dela.
A carta deixada, eu não vi e não quis ler na delegacia, mas pelo que me contaram a carta não falava nada bom não falava de mim, dos amigos ou do cachorro que era a vida dela. Dizia apenas coisas pra mãe..pra mãe ficar com toda a porra do dinheiro, pra ficar com os malditos dos bens dela, que dar dinheiro não era ser mãe, e que ela iria se sentir culpada pelo resto da vida)

Meu lado negro, foi derrotado naquele segundo. Porque a única coisa que eu queria e desejava nesse segundo era o bem, o bem te todas as formas e com toda a força possível.

Hoje eu vivo tomando mais remédios que o habitual.
A novidade é um antiansiolítico 3x ao dia.
Que foi recomendado pra mim com as seguintes palavras.
"Isso vai diminuir essa dor no peito, essa agonia, essa sensação de vazio"
Santo remédio!
Vivo e revivo momentos com sentimentos diferentes.
Duvido todos os dias da minha força.
Me questiono varias vezes por dia se essa força vai ser suficiente pra que eu não entre no abismo e no (antigo) ciclo vicioso de pensamentos ruins.
Mas é isso ai, cada dia é um dia.
E como dizem, o que não mata fortalece.
E eu não pretendo morrer tão cedo.
Tenho muitas coisas pra fazer, por mim e por ela.

3 comentários:

  1. Eu não te conheço, não conhecia ela e sabia "bem por alto" a história de vocês. Mas eu queria te dizer que eu senti uma dor absurda quando soube o que houve. ABSURDA. Em primeiro lugar porque eu já desejei mil vezes estar no lugar dela e sentir essa liberdade de dar fim ao sofrimento. Deve ser mágico. Em segundo lugar, porque nunca desejei a ninguém que amo estar no teu lugar. Isso é o que me impede. Não sei por quanto tempo aguento sofrer para não gerar mais sofrimento, mas eu me esforço. Se um dia eu não aguentar mais, que seja doce. Sorte e força pra ti, a vida segue, meio capenga, ma segue.

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  2. "Duvido todos os dias da minha força."
    Esta é a condição humana. É a incerteza do amanhã, dos nossos limites. Aqueles que se dizem fortes, não parecem humanos. Não existem verdades absolutas, não se sinta estranha por duvidar de si. Sei que tu tem uma força de Fenix, e vai renascer quantas vezes forem necessárias. E se preciso for, todos os dias.

    Em breve quero te ver.

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  3. NEN SEI COMO EXPRESSAR O QUE ESTAMOS SENTINDO,SÓ QUE COM ESSE ACONTECIMENTO, DESCOBRI QUE O AMOR QUE DOU AOS MEUS FILHOS É MUITO DIGO TODOS OS DIAS COMO AMO ELES.AS COISAS MATERIAS NA NOSSA CASA NÃO SÃO MUITAS ,MAS O AMOR ENTRE NOS É IMENSO,SUPRINDO QUALQUER FALTADE DINHEIRO SEMPRE LUTEI MAS A LUTA É PELO AMOR.

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