quinta-feira, 31 de março de 2011

"Sintomas da Vida"

Hoje acordei com uma mancha maior em baixo dos olhos, não era maquiagem, e sim as olheiras.
O cansaço não era de ter dormido mal.
O cansaço não era físico, era o mental se tornando físico.
A dor de cabeça, não era um sintoma da gripe.
Eu vinha sentindo os avisos.  
Ao mesmo tempo que o peito parece se comprimir, sem espaço para mais nada, ele se enche, enche de dor..
Aperta, te esvazia, te enche, sufoca e dói.
A angustia aumenta, os pensamentos se batem, uns contra os outros.
A coisa toda se agita, feito de altos e baixos causada por impactos, onde uma coisa só pode ocupar esse espaço.
Invade, destrói, devasta.
É o efeito tsunami.
Eu preciso respirar, mas eu me engasgo, me afogo.
Esperteza seria nadar contra, ou tentar boiar?
Esperteza.... esperança.
Palavras simples, mas tem dias que não são só palavras.
Tem dias que elas precisam ter sentido.
Precisam ser sentidas.
Mas é difícil nadar no meio de um tsunami.
Junto, contra, a favor, isso te destrói, é cansativo de uma forma ou de outra. 

Hoje eu não acordei bem.
Eu achava que conforme o tempo fosse passando a dor iria amenizando.
Mas de três dias pra cá, venho notando um declínio.

A minha relação com a dor hoje, pode se definir assim: A minha dor, se acha uma celebridade, adora aparecer, e tem dias que ela cobra mais caro por se mostrar mais presente. Nesses dias eu sinto que essa dor está me levando ao inferno, e o pior, à prestação.

Eu sabia qual era o meu destino final.
Mas antes eu precisava achar algo pra enfrentar, pra me sentir vitoriosa, pra dizer a dor que eu ainda era capaz de enfrenta-lá.
Peguei o cigarro, o celular, o pen drive, a chave do carro e uma vela.
Passei reto pela sala, apenas disse: Avisa pro pai que fui dar uma volta.

Faz dias que chove aqui, então resolvi ir até o Siriú.
Coloquei as músicas mais tristes e vim gritando cada palavra, cada refrão, com toda a minha força.
Eu precisava sentir de alguma forma essa dor saindo de mim.
Eu precisava cuspir isso.
E claro, chorar.
Achei que o caminho fosse estar bem embarrado, e ai seria a minha dificuldade: Não atolar.
Fui e voltei, e de uma forma provei que eu posso sim, ir e voltar.
Representei de uma forma minúscula, que o caminho é difícil, que eu vou chorar, vou gritar, vou passar por inúmeras tsunamis, mas vou conseguir voltar, à minha casa, ao meu eu, embarrada, mas ainda que com dor, inteira.

Mas eu não fui pra casa.
Precisava ir a um lugar antes.
Fui pra gruta, a gruta da Nossa Senhora de Lourdes.
Eu sei que ao lado da estátua, dentro da gruta tem uma vertente, mas a escada estava enxarcada, então subi com cuidado pra não cair escada abaixo.
Cheguei ali, chorando e me sentindo tão pequena.. (sei que não sou alta) mas me senti menor do que todas as coisas que estavam ao meu redor, menor que a escada, menor que as arvóres, menor que a gruta, menor que tudo.
Tinha um silêncio que me incomodava.
Eu não sabia o que me assutava mais, se era o silêncio, as mensagens deixadas pra Santa, as velas, ou se era o receio de que alguem aparecesse por trás das plantas, da gruta ou sei lá, que brotasse do além.
Pedi como peço todas as noites, pra que ela consiga ir em paz, pra que tudo dê certo pra ela e pedi pra que ela me mandasse boas energias pra eu conseguir passar por isso, sobreviver.
Tava difícil conseguir "prender" a vela ali, tinha água até dentro da gruta e então escutei uns barulhinhos estranhos vindo de tras da gruta.. fiquei nervosa mas finalmente consegui prender a vela, olhei mais uma vez pra Santa e pedi novamente que ela à deixasse seguir em paz.
O silêncio voltou e quando eu tava me distanciando da entrada da gruta, um barulho alto estridente me assusta: Pchííííííííí-û!
Não me importa se era um passarinho, alguem, ou o que for, eu corri. Quando cheguei no final da escada, olhei pra cima e me senti uma besta.
O medo mesmo não era da gruta, do barulho ou de qualquer outra coisa.
O medo era fruto do desespero plantado dentro de mim.

Esses dias comprei três livros:
*"Uma viagem entre o céu e o Inferno" - Os surtos de euforia e depressão no depoimento de um portador de Transtorno Bipolar.
*"Acordando pra Vida"
*"Nosso lar"

(é eu to buscando palavras, pensamentos, trilhas, enfim, coisas que possam me nutrir.)
O livro Nosso Lar, eu não sei se vou conseguir ler tão cedo..
Mas já comecei a ler um, "A viagem entre o Céu e o Inferno."

Eis um trecho que achei:
" A forma que fui apresentado à doença psíquiatrica deixou a sensação de que aquilo não era pra mim. A revolta é natural, pois não existe uma rota alternativa para desviar daquela realidade imposta. Apenas aceitação, e essa é uma das posturas mais difíceis. Entendê-la, ter o conhecimento básico sobre ela, acredito ser o caminho menos difícil é por acreditar que não exista mesmo um mais fácil.
No que se diz respeito à literatura, temos ótimos livros a respeito de doenças psíquiatricas. Uma das formas de tornar tudo menos difícil, então, é se tornar autodidata. Para mim foi o primeiro passo a aceitação. A princípio, a leitura funciona como uma busca de sinônimos, em diversos dicionários, para os termos aos quais devemos nos habituar a ouvir.
O Transtorno Bipolar do Humor começava a despotar no meio acadêmico e colocaria em desuso o termo psicose maníaco-depressívo para efeitos diagnósticos. A mudança na nomenclatura, contudo, ameniza de forma sutíl o preconceito, mas não contrinui para aliviar o peso da doença - nem seus sintomas. Assim como abipolaridade, outros termos começaram a fazer parte do meu cotidiano, serotonina, impulsos elétricos, neurotransmissores, ansiolíticos, carbamazepina, fluoxetina, surtos e depressões, entre tanto outros.
Em alguns momentos, cheguei a considerar se a ignorância não teria sido a melhor rota a seguir. Saber gera uma infinidade de questionamentos, para os quais nem sempre temos respostas - e, quando as temos, muitas vezes preferimos ignorá-las. Mas a partir do momento em que nos propomos saber, entramos numa via de mão única, sem retornos, com a única alternativa de perseguir uma resposta, que pode não existir, ou que seja oculta em um enorme enigma, o qual talvez só consigamos decifrar no final da vida, em nosso último suspiro."

Esse trecho não cabe apenas as doenças psíquiatricas, mas sim a diversos problemas que a vida nos impõem. Depois da parte mais difícil que é a aceitação vem o saber,  que por vez nos leva as respostas, e outra vez  a perguntas.
Mas a cada resposta que aprendemos acumulamos conhecimento e este sim nos da uma certeza.
De que é preciso continuar vivendo.

2 comentários:

  1. Eu lembro dessa gruta!
    No dia em que tu me levou lá, senti uma energia tão forte.
    Keep walking...
    Quando voltar a POA, me avisa.
    Quero mesmo te ver.

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  2. Força... É o mínimo q poderíamos te desejar neste momento! Ainda mais força aquele que já precisa ser forte a cada dia para sobrepujar os altos e baixos do mundo bipolar, não é fácil, algum dia duvidaste da tua força? Agora tens que ser mais forte a cada dia!
    Cuidado com as literaturas, saber tudo sobre nossas doenças e ler livros espíritas nem sempre é o melhor, sobretudo em um momento tão delicado, palavras podem te acalentar e outras te causar grande confusão... Não se rotule! (Me perdoe por vir com achismos, mas essa é uma experiência pessoal).
    Boiar um pouco pra descansar às vezes é bom ou as forças se esgotam e quando estiver com medo de algo que sinta ou imagine que sinta feche os olhos reze e diga que você a deixa ir afinal acho eu que o amor é nosso maior vinculo nesse mundo.
    Lute sempre você vai ficar bem, não deixe jamais que o brilho dos teus olhos se apague!

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